Atualmente, diversas pesquisas se ocupam do potencial perigo de contágio com o novo coronavírus através das crianças. Uma delas foi apresentada na segunda-feira (04/01) pela equipe liderada pelo microbiólogo vienense Michael Wagner. Na ocasião ele explicou que em novembro de 2020 uma em cada três ou quatro salas de aula examinadas continha um aluno que não se sabia estar contaminado.
No estudo empregou-se um método de testes antes inusual: os participantes gargarejavam durante um minuto uma solução salina especial e depois a cuspiam num tubo de ensaio. Assim poupou-se às crianças o desconforto da usual coleta de muco com um cotonete na garganta.
Testes de reação em cadeia da polimerase (PCR) mostraram que os mais jovens também contraem covid-19 com uma frequência muitas vezes maior do que os adultos, apesar de raramente apresentarem sintomas.
Esse fato problematiza a questão da testagem, como explicou Wagner no canal alemão de TV ARD: “Se só olho as crianças infectadas e aí pergunto se há ainda outras infecções comprovadas nas escolas, sem ter testado também as assintomáticas, não posso fazer nenhuma afirmativa sobre a origem do vírus.”
“Ou seja, se o Franz está contaminado, testou-se toda a classe ou apenas se disse que há outros comprovadamente contaminados na classe dele? Só posso fazer uma afirmação se tiver testado pelo menos toda a classe dos alunos infectados, e isso mais de uma vez.”
Infecções silenciosas
Até agora, a maior parte dos cientistas partia do princípio de que as crianças em geral não tinham grande relevância na propagação do vírus Sars-Cov-2. Uma pesquisa do Centro Helmholtz de Munique, envolvendo testes de anticorpos, contudo, chegou a outra conclusão.
Entre janeiro e junho de 2020, testou-se a presença do coronavírus no sangue de quase 12 mil indivíduos da Baviera, entre 1 e 18 anos de idade. Como relata a pesquisadora-chefe Annette-Gabriele Ziegler, o número dos contagiados era mais de seis vezes superior ao que se supunha. Entre os que viviam com um familiar que tivera teste de covid-19 positivo, cerca de um terço apresentava anticorpos.
Os anticorpos do Sars-Cov-2 só são detectáveis de uma a quatro semanas após o contágio. Uma vez que quase a metade das crianças infectadas não desenvolve sintomas, a infecção se desenvolve despercebida, favorecendo a disseminação do vírus.
A microbióloga e imunóloga Donna Faber, da Universidade Columbia, explicou à DW que isso se deve a um tipo de linfócito: as células T “virgens” ou “ingênuas”. Em suas pesquisas sobre a diferença entre as reações imunológicas de crianças e adultos, ela examinou as assim chamadas “reações não treinadas” e sua relevância para a eliminação do novo coronavírus.
O segredo das células T ingênuas
“As células T jovens reagem a novos patógenos de modo bem diferente: as crianças as produzem constantemente, têm todo um arsenal delas”, relata Faber. “Os adultos, por sua vez, perdem no decorrer da vida a capacidade de produzir novas células T virgens.”
Estas circulam entre os vasos sanguíneos e os órgãos linfáticos periféricos. Ao entrar em contato com um antígeno, recebem sinal para se multiplicar, reagindo de forma adaptativa. Em contrapartida, as células T dos adultos são treinadas para combater agentes infecciosos com que já se confrontaram, por exemplo, os vírus da gripe.
No caso de ameaças conhecidas, a reação imunológica adulta é bem mais eficaz, mas quando se trata de um novo patógeno, como o novo coronavírus, as células T infantis defendem melhor o organismo.
No combate à pandemia, até o momento tem-se subestimado o perigo de que crianças possam ser contagiosas: apesar de perfeitamente capazes de transmitir o vírus sem que se note, elas são testadas com muito menor frequência, ou nunca.
Como forma de conter o Sars-Cov-2, a cientista Ziegler pleiteia medidas de precaução bem mais severas, em especial nos jardins de infância e escolas, como manter distância, ventilar regularmente os ambientes, seguir as regras de higiene e manter os grupos de crianças e adolescentes num número menor possível. Além disso, seria aconselhável testá-los com frequência, mesmo na ausência de sintomas óbvios.
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