Estudo indica que imunidade contra covid-19 pode durar apenas três meses.

Cientistas observaram ainda que pacientes assintomáticos podem desenvolver menos anticorpos do que aqueles que apresentaram sintomas. Conclusões levantam dúvidas sobre estratégias como "passaportes de imunidade". - Por DW.

Estudo publicado na "Nature Medicine" analisou 37 pacientes assintomáticos e 37 sintomáticos - Foto: Augustin Marcarian

Um estudo comandado por cientistas chineses apontou que os anticorpos desenvolvidos pelo corpo humano contra a covid-19 após uma infecção podem durar apenas dois ou três meses. Dessa forma, a imunidade contra a doença pode não ter um efeito de longo prazo, de acordo com informações publicadas no periódico científico Nature Medicine e reproduzidas nesta segunda-feira (22/06) pela imprensa chinesa.

Tal quadro também pode vir a afetar as possibilidades de aplicação das novas vacinas em desenvolvimento e levanta dúvidas sobre estratégias como a dos “passaportes de imunidade” para pessoas que já se curaram.

Além disso, o estudo indicou que pacientes assintomáticos infectados pelo Sars-Cov-2 podem ter uma resposta imunológica mais fraca do que aqueles que desenvolveram os sintomas, que incluem febre e tosse.

O estudo da Universidade de Medicina de Chongqing, no sudoeste da China, intitulado “Avaliação clínica e imunológica de infecções assintomáticas por Sars-Cov-2”, comparou os resultados da detecção de anticorpos no sangue de 37 pacientes sintomáticos e 37 assintomáticos, sendo homens e mulheres com idades entre 8 e 75 anos.

O estudo constatou que a maioria dos infectados produziu anticorpos para o novo coronavírus, especificamente IgG e IgM. Este último, o primeiro anticorpo que o organismo produz para combater uma nova infecção, apareceu geralmente em primeiro e com a menor duração.

Por sua vez, o anticorpo IgG, que aparece mais tarde e dura mais tempo, é o anticorpo mais abundante no corpo e fornece proteção contra infecções bacterianas e virais, mas pode levar tempo para se formar após uma infecção.

O estudo revelou que, dentro de três a quatro semanas após a infecção, em sua fase aguda, o grupo de pacientes assintomáticos apresentava uma taxa de IgM de 62,2% e uma taxa de IgG de 81,1%. No grupo com sintomas, a IgM foi de 78,4% e a IgG foi de 83,8%.

Assim, o estudo conclui que as infecções assintomáticas apresentam níveis mais baixos de anticorpos que os casos confirmados, embora sejam semelhantes nos dois grupos.

No entanto, o nível de anticorpos da maioria das pessoas infectadas mostrou uma diminuição significativa de dois a três meses após a infecção.

Os níveis de anticorpos IgG em 93,3% do grupo assintomático e 96,8% do grupo sintomático começaram a diminuir precocemente no período de reabilitação, ou seja, oito semanas após a alta.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou um relatório científico em 24 de abril no qual assegurou que “não há evidências” que possam provar que os anticorpos produzidos após a infecção pelo coronavírus possam proteger o organismo de uma segunda infecção.

No entanto, o professor de virologia Jin Dong-Yan, da Universidade de Hong Kong – que não participou do grupo de pesquisa, mas que analisou as conclusões –, disse que o estudo não nega a possibilidade de outras partes do sistema imunológico poderem oferecer proteção.

“A descoberta neste estudo não significa que o céu está desabando”, disse Dong-Yan, enfatizando ainda que o número de pacientes estudados foi pequeno.

A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.

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