Mudanças no padrão de sono, medo e preocupação excessivos, dificuldades de concentração, e sintomas físicos como taquicardia e mal estar generalizado. Esses podem ser sinais de alerta os quais os profissionais de saúde devem observar com bastante atenção. Segundo o chefe do Ambulatório de Psiquiatria do Hospital Universitário Lauro Wanderley, Roberto Mendes, o surgimento desses sintomas podem ser indícios de estresse e cansaço mental.
Os trabalhadores da área da saúde estão vivendo uma rotina incomum nos últimos meses, principalmente aqueles que estão ligados diretamente à batalha contra o coronavírus: um momento histórico em suas carreiras. Por isso, devem estar bastante atentos à saúde mental. De acordo com o psiquiatra, profissionais que estejam apresentando sinais de estresse podem necessitar de cuidados logo no início, para evitar que o quadro venha a se agravar.
“A crise provocada pela pandemia de covid-19 causou aumento exponencial da demanda por serviços médico-hospitalares, em todos os países envolvidos. Como consequência, é preciso estar preparado para enfrentar o inevitável incremento na sobrecarga emocional e de trabalho da equipe multidisciplinar. O estresse extremo, as incertezas de uma problemática inédita e a própria natureza médica muitas vezes difícil de surtos globais de doenças infecciosas, como a covid-19, requerem atenção especial”, frisou Mendes.
Entre os fatores que contribuem para uma sobrecarga emocional nos profissionais de saúde, explicou o médico, estão situações de separação física da família e amigos, estigmatização e medo de transmitir a doença aos parentes. “Não menos importante, o risco potencial de ser contaminado durante o processo de trabalho e de contaminar outras pessoas atua como enorme estressor para aqueles diretamente envolvidos nas linhas de frente”, destacou.
Outros sinais indicados pelo psiquiatra e que devem chamar a atenção são irritabilidade excessiva, apatia, angústia, e perda de senso de humor. Há também sintomas, ligados mais diretamente à saúde física, que podem ser indicação de que há algo de errado na saúde psíquica como mal estar generalizado, formigamento nos dedos, tontura, taquicardia, diarreias frequentes, dificuldades sexuais, e sensação de desgaste físico constante.
“Pode haver o agravamento de doenças crônicas como hipertensão arterial, gastrite ou úlcera e problemas dermatológicos, por exemplo”, enumera o psiquiatra, acrescentando que o amento no consumo de álcool e cigarro também integram a lista dos fatores ocasionados pelo estresse.
Adotar cuidados para manter a saúde física e o bem estar mental, controlando ansiedade e estresse, são fundamentais para que todos atravessem esta etapa da vida sem tantos prejuízos. Ser otimista e pensar positivo já são um começo. Mas existem atitudes que vão contribuir para lidar melhor com a situação: cuidar bem da alimentação, manter uma rotina equilibrada, praticar exercícios físicos e incluir na agenda (e tentar cumprir mesmo que o tempo esteja limitado) algo que você tenha prazer em fazer.
Dia a dia dos profissionais
A assistente social do HULW, Dandara Correia, conta que a apreensão integra a rotina de trabalho entre os profissionais de saúde após o surgimento da covid-19. “Nosso dia a dia tem sido de muita tensão, que se dá pelo risco iminente de ser contaminado pelo vírus”, conta. A profissional destaca ainda a angústia que tem compartilhado com colegas em perceber os efeitos da pandemia (como a questão do isolamento social) na qualidade de vida e recuperação dos pacientes. “Observamos uma angústia ocasionada por conta das repercussões geradas pelas medidas de isolamento. Tanto na saúde física dos usuários, quanto emocional. Sofrimento para o paciente e para a família por conta do distanciamento, que afeta também o profissional”, complementa.
Mas as dificuldades são contornadas com a ajuda mútua entre os profissionais de saúde. Solidariedade e cuidado mútuo são características que têm aflorado ainda mais na rotina desses colaboradores durante o atual período em que estão vivenciando. Dandara explica que a preocupação permeia não apenas a questão física (como reforço nos procedimentos para evitar uma possível transmissão), mas também o lado emocional.
“Nós, assistentes sociais do HULW, estamos a todo o tempo prestando solidariedade umas com as outras, compartilhando e discutindo vídeos e materiais que ajudem no aspecto de preservação da saúde mental, como exercícios e mensagens para nos ajudar em meio a toda a essa tensão. A relação entre as assistentes sociais é de muita solidariedade”, relata.