A espiritualidade e a religiosidade em cuidados paliativos.

Médica Pediatra, trabalha no Programa Saúde da Família, mestre em Ciências das Religiões e escritora com três livros publicados pela Editora Santuário. Texto foi escrito pela Médica Valdelene Andrade, baseado em seu livro “Medicina e Espiritualidade”.

Valdelene Andrade - Médica Pediatra

Nem todos os pacientes experienciam o final de vida da mesma forma. Uns encontram conforto na religião, outros não. Observa-se com frequência que mesmo aqueles que não se assumem como religiosos, poderão apresentar uma mudança neste aspecto, quando se aproximam do fim. O modelo cartesiano de Medicina considera o corpo separado da mente e ignora muitas vezes aspectos totalitários da vida humana. O modelo holístico por sua vez, considera a tríade mente-corpo-espírito.

Na enfermidade o homem sente-se impotente, pois experimenta um sentimento de finitude e sente-se próximo da morte. É bom esclarecer que espiritualidade e religião não são a mesma coisa. A primeira é referente ao espírito, independente de denominação religiosa. Portanto os ateus, segundo as concepções modernas também podem ser indivíduos espiritualizados através da ética e da maneira de se relacionar com o universo e seus semelhantes. No entanto, os trabalhos científicos demonstram a importância da prática religiosa frequente na prevenção e tratamento das enfermidades, melhorando seu prognóstico.

O conceito de Cuidados Paliativos teve origem no movimento hospice, originado por Cecily Saunders e colaboradores, disseminando pelo mundo uma nova filosofia sobre o cuidar. Esta continha dois elementos fundamentais:

  • O controle da dor e de outros sintomas decorrentes dos tratamentos em fase avançada de doença;
  • O acompanhamento prestado, abrangendo as dimensões psicológicas, sociais e espirituais dos doentes e suas famílias.

Diante do desafio de cuidar do paciente no final da vida de maneira tão completa, devemos expandir nossa compreensão do ser humano como um todo, incluindo a esfera espiritual.

Importância do apoio religioso no enfrentamento das doenças:

 Um estudo desenvolvido na Inglaterra com católicos praticantes e ateus ou agnósticos, utilizando choques elétricos como provocadores dos estímulos dolorosos e a ressonância magnética para avaliar o cérebro desses voluntários, utilizou uma imagem da Virgem Maria, a Vergine Annunciata, e a figura de uma senhora pintada por Leonardo da Vince, a Dama do Arminho, para observar se havia influência sobre o limiar da dor, quando o indivíduo estivesse diante de uma ou da outra gravura projetada no teto do laboratório. Os cientistas responsáveis pelo estudo concluíram que o grupo católico apresentava maior afluxo sanguíneo em uma área cerebral relacionada a uma nova contextualização da dor: a pré-frontal ventrolateral direita. Essas pessoas relataram sentir melhor a sensação psicológica, ao se concentrarem diante da imagem da Virgem; já o grupo formado por ateus e agnósticos não relatou diferença entre as duas projeções.

A religiosidade reduz a ansiedade diante das doenças e ressignifica o sofrimento. É uma importante ferramenta no combate à depressão, além de ser uma grande fonte de apoio social. Pertencer a uma religião é um fator de prevenção de doenças e reduz o número de óbitos. Reduz o tempo de internação e acelera a recuperação após intervenções cirúrgicas.

O sofrimento e a proximidade da morte fazem-nos reavaliar a vida, enfocando nossas mentes em seus valores essenciais: valeu a pena? Qual foi o meu saldo? Estou deixando saudades? O que realizei deu sentido à minha vida e à de outros? Para onde irei depois da morte? Qual legado estou deixando?

Quando existe um relacionamento pessoal com Deus, através do qual podemos conhecer o Seu amor, a Sua misericórdia e graça, e quando Ele participa de cada detalhe de nossos dias, a vida não acaba com a morte. A esperança vai além, dando forças para viver até o final, sendo somadas: dignidade, qualidade de vida, utilidade, paz e alegria. Estas permanecem, até mesmo, à sombra da morte.

Instagram: @dra.valdelene

 

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