Radiofármacos são medicamentos que têm em sua estrutura um isótopo radioativo que determina que, a cada meia-vida, sua atividade será reduzida à metade. A explicação foi dada pela farmacêutica Priscilla Pujatti, doutora em Tecnologia Nuclear, integrante da radiofarmácia hospitalar do Inca (Instituto Nacional de Câncer-Rio de Janeiro), que abordou o tema no webinar “Radiofarmácia hospitalar em tempos de covid-19: desafios e oportunidades”, promovida pela Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar (SBRAFH) no dia 22 de junho de 2020.
Ponderando o cenário atual, a natureza dos radiofármacos e as mudanças no atendimento aos pacientes oncológicos, a especialista destacou que a principal diferença de um radiofármaco para os medicamentos convencionais é que não é possível comprá-los e estocá-los. “A premissa máxima da radiofarmácia é que esses produtos não são produtos de prateleira. Eles são produzidos, controlados, distribuídos e utilizados em sequência, em um curto intervalo de tempo, quando comparados com um medicamento convencional”.
A radiofarmácia hospitalar é o serviço de radiofarmácia que está encarregado de todas as atividades relacionadas aos radiofármacos, desde a parte de gestão e planejamento até a dispensação para a administração aos pacientes, estando diretamente vinculada a um serviço de medicina nuclear. Para a especialista, além das variações de transporte e outros eventos externos no Brasil e no mundo que normalmente influenciam as atividades da radiofarmácia, um fator novo trazido pela Covid-19 foi a alteração no fluxo de pacientes para a radiofarmácia hospitalar, no caso específico, para o serviço de medicina nuclear. Afirmou que o máximo que a gente consegue pensar, em termos de radiofarmácia hospitalar e covid-19 é: “vamos pisar um pouco no freio, reprogramar e trabalhar a uma velocidade reduzida, mas não dá para parar”.
Ainda durante sua explanação, levantou questões como o fluxo de pacientes nas salas de espera, a dependência do Brasil da importação de radioisótopos, o investimento em geradores de radioisótopos para a radiofarmácia hospitalar, centralização e/ou descentralização da produção e logística de distribuição de radiofármacos no Brasil e a necessidade de uma legislação específica para a radiofarmácia hospitalar. “As legislações em radiofarmácia não abordam especificamente a radiofarmácia hospitalar. Então, muitas vezes, a gente fica entre uma legislação para radiofarmácia industrial, uma legislação para o serviço de medicina nuclear e uma legislação para manipulação de medicamentos, mas, muitas vezes, sem um respaldo da legislação para o desenvolvimento de algumas atividades”, disse.
A partir das novas experiências enfrentadas pelo setor com a Covid-19, Priscilla Pujatti acredita que está em curso a produção de um legado capaz de incorporar novas práticas, com maior interação entre a equipe multiprofissional, realização de procedimentos com mais segurança, embasamentos científico e técnico, discussões bem fundamentadas, e, muitas vezes, de forma online: “esses são pontos positivos. E a gente está vendo que as equipes estão conversando o tempo inteiro, na tentativa de viabilizar as atividades, e quem ganha com isso sempre é o paciente”.
A profissional destacou, ainda, que as experiências e questionamentos feitos agora renderão bons resultados para o futuro. “Daqui a um ano, mais ou menos, eu imagino que teremos dados consolidados sobre tudo isso. E, a partir daí, a gente pode publicar essas experiências, com geração de dados inéditos para solução de problemas futuros e outras ocorrências que a gente possa vivenciar”.
Além dos aspectos abordados no webinar, a expositora alerta ao CFF que os avanços podem não ocorrer se o cenário atual de carência de profissionais capacitados para atuação na área, bem como de cursos de formação, continuar como uma realidade. “A maioria dos farmacêuticos conclui a graduação sem ter conhecimento da radiofarmácia como área de atuação e, quando tem, não tem o foco direcionado para a atuação na área de radiofarmácia hospitalar e clínica. Precisamos formar o profissional alinhado com as necessidades atuais e preparado para as constantes transformações a que estamos submetidos. Além disso, são escassos os cursos de pós-graduação na área e a radiofarmácia não é uma disciplina ou vivência comum nos cursos de pós-graduação ou nas residências em farmácia no país. O que temos ainda é pouco para um país tão grande e que conta com mais de 400 serviços de medicina nuclear, como o Brasil”.
Em contrapartida à realidade atual, o Inca (Instituto Nacional do Câncer) oferta a radiofarmácia hospitalar como módulo teórico e campo de prática para os farmacêuticos na Residência Multiprofissional em Oncologia e também possui uma vaga anual no Programa de Aperfeiçoamento nos Moldes Fellow em Radiofarmácia Hospitalar Oncológica, com bolsa, para farmacêuticos que concluíram residência, do qual Priscilla é idealizadora e coordenadora. “No ano de 2019 ajustamos o programa do curso para entrarmos com o pedido de reconhecimento junto ao CFF como curso livre em radiofarmácia, já visando o atendimento do egresso ao estabelecido à Resolução CFF n. 656/2018”.
A Resolução CFF n. 656, de 24 de maio de 2018 estabeleceu os critérios para a atuação do farmacêutico em radiofarmácia. Leia a resolução na íntegra aqui.
Assista ao Webinar “Radiofarmácia hospitalar em tempos de covid-19: desafios e oportunidades” na íntegra: https://www.youtube.com/watch?v=heRJMWuzWXY
Para maiores informações sobre o Aperfeiçoamento nos Moldes Fellow em Radiofarmácia Hospitalar Oncológica do Inca: https://www.inca.gov.br/cursos/radiofarmacia-hospitalar-oncologica-0