Ofegante, a alemã Valerie Giesen senta no banco. A jovem de 29 anos acaba de conseguir percorrer a rua inteira. “Foi provavelmente o maior esforço de hoje”, diz. Seu coração bate mais rápido, é possível ouvi-la respirar.
Há oito meses, percorrer estas algumas centenas de metros não seria um problema. Na época, ela saía para dançar duas ou três vezes por semana e, ocasionalmente, ia escalar ou nadar. Giesen é uma das muitas pacientes que os médicos dizem estar oficialmente recuperada da covid-19, mas ainda não saudável.
Estudos iniciais na Itália e na Irlanda mostraram que cerca de metade ou mais dos pacientes com covid-19 continuam a lidar com exaustão e falta de ar por várias semanas ou meses após sua recuperação. Mas ainda é muito cedo para conhecer os efeitos a longo prazo de uma infecção por coronavírus.
A Organização Mundial da Saúde diz que os sintomas da covid-19 podem durar meses ou retornar muito mais tarde – mesmo que a infecção tenha sido relativamente branda no início. Isso vale, segundo a entidade, inclusive para pessoas mais jovens, como Giesen, que agora precisa fazer várias sestas por dia.
“Nunca me senti tão doente”
Ela superou o vírus em abril, mas continua se sentindo mal. Os primeiros sintomas da doença apareceram em março. “Meu coração batia muito rápido, e eu sentia uma forte pressão no peito”, conta. “Eu nunca me senti tão doente”. Ela passou as duas semanas seguintes na cama completamente exausta, sentindo dor em seus pulmões. Até mesmo ir ao banheiro era difícil. “Eu tinha que descansar por muito tempo antes de conseguir”.
Por causa da falta da capacidade dos hospitais na época, Giesen não foi testada para o vírus. “Essa foi a primeira onda”, diz Giesen, que é antropóloga e vive na Dinamarca. “Tive até medo de ir ao hospital”.
Após sua recuperação, ela voltou a se sentir saudável. Um teste em junho confirmou que ela tinha anticorpos para Sars-CoV-2. Nas férias de verão, ela pedalou mais de 400 quilômetros de Copenhague a Berlim, sua cidade natal. Parecia que estava tudo bem.
“No final de agosto, tudo começou”, diz Giesen. Ela tinha a intenção de partir para o trabalho de campo quando aconteceu a recaída: exaustão crônica, pressão nos pulmões, dificuldade de respirar.
“Eu mal conseguia levantar a cabeça”, relata. “Foi um peso que eu senti durante muito tempo”. Os colegas com quem ela divide apartamento ofereceram apoio indo às compras ou cozinhando.
Giesen vem experimentando estes sintomas há cerca de oito semanas e voltou temporariamente a morar com os pais em Berlim. “Tenho dúvidas na Dinamarca”, diz. Seu médico em Copenhague não pôde ajudar. Nos últimos dias, no entanto, ela tem se sentido um pouco melhor: “Posso me sentar direito e falar – até mais de duas ou três sentenças”.
Sintomas ainda são mistério
Giesen passou por vários testes num hospital em Berlim. Um exame no coração não revelou irregularidades, assim como um teste de função pulmonar. Até agora, ela foi diagnosticada com síndrome de fadiga pós-covid. Os sintomas incluem um estado de exaustão crônica, bem como uma sensação persistente de infecção e dificuldade de concentração.
A alemã compara seu nível diário de energia com uma banheira cheia de água: tudo o que ela faz gasta um pouco, e a sesta é o balde que guarda um pouco de água para mais tarde, mas, em alguma momento, tudo acaba sendo usado no dia.
Giesen mantém à mão vitaminas variadas, chá de curcuma e frutas e vegetais. Ela dá muita atenção à sua alimentação, pois comer saudavelmente é anti-inflamatório. É uma tentativa de tomar algum controle sobre seus próprios cuidados, pois o campo médico ainda sabe muito pouco sobre sua condição. Ela encontrou as dicas através de um grupo de apoio on-line que foi fundado pelo grupo queer feminista de bem-estar coletivo Body Politic.
Milhares de membros compartilham histórias sobre os efeitos a longo prazo de suas infecções por covid-19 através da plataforma de mensagens Slack. Os integrantes do grupo de apoio inclusive iniciaram um relatório de pesquisa sobre os efeitos da doença. Giesen lê as conversas diariamente: “É um ritual noturno reconfortante: me sinto menos sozinha”.
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