Dois medicamentos utilizados no tratamento da hepatite C no Brasil, Harvoni (ledipasvir/sofosbuvir) e Epclusa (sofosbuvir/velpatasvir), tiveram ampliação de uso aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o tratamento de pacientes com comprometimento renal grave, incluindo a Doença Renal em Estágio Final (DREF). Chance de cura para esses pacientes é de mais de 95%, afirma a Gilead Sciences, fabricante dos produtos.
Até então, esses medicamentos não tinham recomendação de uso em pessoas com insuficiência renal em estágios 4 e 5, níveis mais graves da doença que levam o paciente à necessidade de hemodiálise, porque os estudos nesse grupo de pacientes ainda estavam em curso, informou a Folha Vitória. A DREF é uma doença caracterizada pela perda irretratável da função renal.
“A partir de agora, as pessoas com as formas mais graves de insuficiência renal poderão ter acesso às terapias mencionadas, as quais proporcionam chances de cura de mais de 95% e um perfil de segurança adequado para o uso seguro das drogas nessa população de pacientes”, destacou ao jornal o gastroenterologista e diretor médico associado da Gilead Sciences no Brasil, Eric Bassetti.
De acordo com o médico, pacientes com doença renal têm mais risco de contrair o vírus da hepatite C, comparados à população em geral, já que a transmissão ocorre principalmente pelo contato com sangue contaminado. Com o tratamento é possível eliminar a hepatite C no ambiente da hemodiálise, já que não existe vacina.
Hepatite C pode virar doença sistêmica
A doença é uma infecção causada pelo vírus da hepatite C (HCV), que possui, pelo menos, seis genótipos (tipos) distintos e que acomete preferencialmente o fígado, provocando uma inflamação que leva à formação de cicatrizes (fibrose hepática) e que, com o tempo e sem um tratamento, pode levar à cirrose e ao câncer de fígado. Ela é a maior causa de cirrose, câncer de fígado e de transplante hepático no mundo.
Além das complicações relacionadas ao fígado, ela pode desencadear uma verdadeira doença sistêmica. Estudos comprovam que o vírus da Hepatite C aumenta os riscos do aparecimento de outras doenças como a diabetes do tipo 2, glomerulonefrite e do linfoma, por exemplo, e pode afetar também os rins.
O vírus da hepatite C é transmitido pelo contato com sangue infectado, sendo que os principais meios de transmissão são reutilização e esterilização inadequada de equipamentos médicos, odontológicos e outros, compartilhamento de seringas e agulhas (como no uso de drogas ilícitas), práticas sexuais de risco e transmissão vertical (da mãe para o filho). Pessoas que receberam transfusão de sangue antes de 1993 também podem ter contraído a infecção.
Perto de 70 milhões de pessoas são afetadas pela doença no mundo. No Brasil, são estimados 700 mil portadores da moléstia. Cerca de 155 mil foram diagnosticados entre 1999 e 2016 e há indícios de que ainda faltem 502 mil pessoas para serem diagnosticadas, segundo o jornal.
Nesse período foram realizados 110 mil tratamentos, sendo 57 mil somente entre 2015 e 2017. Entre 2000 e 2016, foram identificados mais de 50 mil óbitos relacionados à hepatite C. Boa parte das pessoas desconhece seu diagnóstico e poucas sabem como ocorreu a transmissão ou que exista tratamento para a doença.