A corrida para obter uma vacina que acabe com a crise do coronavírus ou pelo menos amorteça seus efeitos começa a mostrar os primeiros resultados. Em 18 de maio, por meio de um comunicado de imprensa, a empresa norte-americana Moderna anunciou os resultados de um teste com 45 voluntários saudáveis. Segundo informou, sua vacina é “segura e bem tolerada”, e gerou em pelo menos oito dos participantes níveis de anticorpos capazes de neutralizar a infecção semelhantes ou superiores aos encontrados no sangue de pacientes que sobreviveram à doença.
O objetivo desta primeira fase de testes é verificar se as vacinas são seguras e se os pacientes as toleram bem. Esses resultados não significam que as duas vacinas necessariamente protejam contra a covid-19. A líder do projeto na China, Wei Chen, alertou que “ainda há um longo caminho a percorrer para que esta vacina esteja disponível para todos”. Desde abril, a equipe chinesa realiza uma segunda fase de ensaios com cerca de 500 pacientes para definir a dose mais adequada para que a resposta imune proteja contra a infecção por SARS-CoV-2. A Moderna quer começar em meados do ano o ensaio definitivo de fase III, que verificaria se a vacina é útil para uso maciço no verão.
O virologista Florian Krammer, do Hospital Mount Sinai, em Nova York, estimou para o EL PAÍS que algumas das vacinas chinesas poderiam completar essa fase final no último trimestre do ano. Nesta segunda fase do projeto chinês, serão incluídos pela primeira vez participantes com mais de 60 anos, um grupo de interesse especial em razão de sua suscetibilidade à covid-19.
A vacina que vem sendo testada pela primeira vez em humanos se baseia em um vírus do resfriado comum atenuado. Esse vírus é capaz de invadir células humanas sem causar a doença. Por isso, serve como um meio de transporte para introduzir nas células do paciente o material genético que codifica as proteínas que formam as espículas com as quais o SARS-CoV-2 entra nas células. Depois, essas células produzem a proteína, que chega ao sistema imunológico da pessoa que recebe a vacina e lhe permite criar anticorpos que mais tarde reconhecerão a espícula e impedirão a infecção.
Poucos meses depois do início da crise, já existem duas vacinas de fase II, uma etapa que nunca havia sido alcançada nas tentativas de criar produtos similares para a SARS, a doença conhecida em 2002 que também era provocada por uma infecção por coronavírus. As gigantes farmacêuticas, com o apoio dos Estados Unidos, prometeram dedicar bilhões de dólares para promover estratégias diferentes para conseguir uma vacina eficaz contra o patógeno. No momento, já existem mais de 100 candidatos a vacina em todo o mundo. A grande questão é quanto tempo levará para fabricar essas vacinas para que cheguem a toda a população.
Elisa Sicuri, pesquisadora do Instituto de Saúde Global de Barcelona e do Departamento de Epidemiologia de Doenças Infecciosas da Escola de Saúde Pública do Imperial College, de Londres, explica essa complexidade: “Somos 7,6 bilhões de habitantes no planeta e todos precisaremos dela. Não se sabe quantas doses serão necessárias, se será uma só para toda a vida ou uma por ano, como a vacina contra a gripe. Não sabemos qual será o processo de produção dessa ou dessas vacinas. Algumas são simples de produzir e outras, muito complexas”. Nem o processo inicial de pesquisa nem a futura produção “poderão ser feitos por um único país ou uma única empresa farmacêutica. Se quisermos que alcance o mundo inteiro, teremos que unir forças”, esclarece.