Pesquisadores da UFPB defendem lockdown e criticam subnotificação dos casos.

Em artigo em periódico espanhol, cientistas indicam eficácia do isolamento total na China - Ascom/UFPB

Foto Freepik

Pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) apontam – no artigo “Letalidad del COVID-19: ausencia de patrón epidemiológico”, publicado no periódico espanhol Gaceta Sanitaria – que a ausência de padrão epidemiológico revelou haver uma subestimação mundial da magnitude da Covid-19 e um aumento de mortes diante da falta de notificações.

A conclusão faz parte de uma análise realizada em março deste ano, para identificar as características da pandemia a partir de dados de países que registraram mais de 200 casos de infecção pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2).

De acordo com um dos autores do estudo, professor Alexandre Medeiros, o intuito foi apontar um conjunto de indicadores para compreender os diversos tipos da evolução da doença e o impacto dela pelo mundo.

“Algumas associações eram mais esperadas. Por exemplo, onde há mais doentes vai morrer mais gente. Mas um dos resultados obtidos foi de que a letalidade não estava batendo muito com o que se esperava”, conta o pesquisador.

Segundo o professor da UFPB, países como Espanha e Alemanha, com sistemas de saúde parecidos e estrutura social similares, tinham uma diferença significativa na quantidade de pessoas que morriam com Covid-19 e esse foi um dos fatos que revelou a necessidade de melhorar a identificação de casos nos sistemas de vigilância epidemiológica.

“Isso não era compatível com o que acreditávamos e aí percebemos a necessidade do debate sobre as subnotificações da doença em vários países. Espanha e Itália possuíam alta disseminação da doença e não havia notificações, chegando-se ao colapso dos sistemas de saúde”, alerta o professor Medeiros.

O artigo também contou com a participação da pesquisadora da UFPB, Daniela Figueiredo, e de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), da Universidade de Sevilha (Espanha), Escola Andaluzia de Saúde Pública (Espanha), do Centro de Epidemiologia e Saúde Pública da Espanha e do Centro Internacional de Longevidade do Brasil.

Nesse estudo, argumenta o professor Alexandre Medeiros, foi possível ainda identificar que “quanto melhor era a estrutura de saúde dos países, mais rapidamente conseguiam se recuperar da pandemia”. Conforme Medeiros, os locais com maiores índices de morte não conseguiram fazer o diagnóstico adequado no início da pandemia.

Para solucionar essa problemática no Brasil, o pesquisador da UFPB revela que as experiências analisadas de outros países deveriam auxiliar no combate à Covid-19 no país. Segundo ele, uma das premissas atuais é o lockdown (isolamento total) e o especialista analisou a eficácia da medida em duas regiões da China.

“Estamos publicando um estudo pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em que analisamos os resultados do lockdown na China. Foi eficiente e efetivo lá. No Brasil, há regiões com letalidade enormes e isso é sinal de que a pandemia não tem sido bem dimensionada no país”, acentua Medeiros.

O pesquisador da UFPB acredita que – diante da subnotificação dos casos da doença e das mortes por Covid-19 no Brasil – há uma dificuldade até para a conscientização sobre o isolamento total no país. “Os números deveriam ser corrigidos para população ter a real dimensão da doença. Há um fator padrão de letalidade e ele indica que os dados brasileiros continuam ainda, no mínimo, dez vezes menores do que os casos reais”, avalia o professor. Até às 17h desta quarta-feira (13),  de acordo com o Ministério da Saúde,  o Brasil registra 182 mil casos da doença.

Texto: Jonas Lucas Vieira | Edição: Pedro Paz

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