O projeto Diversitas, desenvolvido pelo Centro de Ciências Médicas da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), apoiará, no pós-pandemia, pacientes com deficiência ou limitação que utilizam os serviços ambulatoriais do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW), no campus I, em João Pessoa.
Coordenada pela professora Rilva Muñoz, a iniciativa, em prol da diversidade humana, visa identificar barreiras a partir da percepção dos próprios pacientes, conscientizar os profissionais da saúde sobre os desafios enfrentados por esse público e o papel que eles e a instituição podem desempenhar visando a inclusão social.
Os problemas também serão comunicados à gestão do hospital, a fim de articular ações para superação dos obstáculos. O projeto está vinculado ao Programa de Bolsas de Extensão (Probex) da UFPB, com vigência até 31 de dezembro deste ano.
As ações para colocar o projeto em prática envolvem elaboração de material, criação de entrevistas individuais e coletivas e visitas técnicas para o mapeamento das barreiras de acessibilidade arquitetônicas, clínicas e psicossociais, bem como passeio acompanhado para identificar a concepção dos usuários quanto às suas vivências, registro e propostas de adequações.
“Ainda não foi possível entrar em contato direto com o público-alvo externo do projeto, que são os usuários com deficiência atendidos no Hospital Universitário da UFPB”, conta Rilva Muñoz.
Devido à pandemia do novo coronavírus, tem ocorrido atendimento ambulatorial por telemedicina em alguns setores ambulatoriais, incluindo aqueles onde são atendidas mais frequentemente pessoas com deficiências, como a neurologia, a reumatologia e a nefrologia.
“Estamos avaliando se a participação remota desses usuários no nosso projeto será apropriada neste momento, por motivos éticos e logísticos. Caso não seja possível, os extensionistas aguardarão a retomada das atividades do hospital para iniciar as ações presenciais voltadas ao público-alvo”.
Também por causa da pandemia, a equipe buscou adaptar o projeto ao formato remoto, com reuniões através da plataforma Google Meet e do aplicativo WhatsApp, para elaboração de conteúdos de mídias digitais, como vídeos, postagens e conteúdos educativos para o perfil do projeto no Instagram.
As pessoas com deficiência representam cerca de 24% da população brasileira, conforme dados de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Segundo os integrantes do projeto, essas pessoas enfrentam disparidades nos cuidados de saúde, pois nem sempre os locais que oferecem esses serviços são planejados para facilitar o acesso de quem apresenta dificuldades de mobilidade física, deficiências intelectuais e sensoriais.
Barreiras
De acordo com Rilva Muñoz, atualmente, apesar de ser um requisito legal nos termos da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), o fornecimento de ajustes razoáveis ainda não é aplicável de forma completa nos serviços de saúde, pois sua implementação geralmente depende do conhecimento de cada equipe e de sua flexibilidade em termos de prestação de cuidados.
“A assistência à saúde é um direito humano fundamental e constitucional, mas as barreiras de acesso a este direito continuam sendo um dos principais desafios entre as pessoas com deficiência”.
Para ela, o sistema de saúde ainda não é completamente estruturado para fornecer atendimento seguro e centrado nas pessoas com deficiência.
Entre as dificuldades enfrentadas, estão a falta de móveis ou equipamentos acessíveis e adaptáveis, para que os exames sigam os mesmos padrões dos demais usuários.
“Os obstáculos podem dificultar a entrada nas instalações, a passagem em elevadores ou mesmo portas para as salas de atendimento, bem como o uso dos banheiros. É preciso discutir o problema de equipamentos médicos inacessíveis, como mesas de exame que não abaixam e balanças e máquinas de mamografia que não podem ser usadas por pessoas em cadeiras de rodas”, afirma Rilva Muñoz.
Outros tipos de problemas, como falta de linguagem de sinais/libras e braile ou outras ferramentas de comunicação adaptadas (informações de fácil leitura, imagens, símbolos), e até atitudes negativas ou preconceituosas podem prejudicar o acesso à saúde por pessoas com deficiência auditiva, visual ou com outras dificuldades de comunicação, a exemplo de deficiências cognitivas ou psicossociais.
Rilda Muñoz esclarece que, embora raramente seja reconhecida como diversidade, a deficiência é também um aspecto importante da diversidade humana. Além disso, ela ressalta que a categoria de pessoas com deficiência é marcada pelas diferenças que afetam profundamente a política de identidade do grupo.
“Deficiências podem afetar órgãos dos sentidos (visão e audição), o intelecto ou mobilidade física; podem ser estáticas ou progressivas, congênitas ou adquiridas, morfológicas (afetando a forma do corpo) ou funcionais (função), visíveis ou invisíveis. Todas essas diferenças criam uma heterogeneidade dentro do todo”.
Além da coordenadora, o projeto conta com a participação do professor José Maroja, do Departamento de Medicina Interna; da técnico-administrativa Isabella Soares e das estudantes de Medicina Renata Freitas, Cândida Virlene e Danielle Dantas.
Reportagem: Aline Lins | Edição: Pedro Paz
Ascom/UFPB